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As doenças transmitidas por alimentos (DTAs) continuam causando vítimas. E por mais que se expliquem as causas destas doenças e que se divulgue o modo de prevenção, as pessoas parecem não dar a menor importância. No último dia 7 de junho, durante a festa do vaqueiro, no município de Morada Nova, mais de 200 pessoas foram acometidas por sintomas característicos de DTAs. Diarréia, vômito e dores abdominais formaram o quadro sintomático principal. A refeição servida foi carne, paçoca e baião de dois com queijo. Três horas após o almoço, segundo relatos, surgiram os primeiros sintomas. Para quem trabalha na área de higiene de alimentos e seguindo estes dados apresentados anteriormente: tipo de comida, sintomas e tempo de aparecimento dos sintomas, é fácil desconfiar de uma bactéria chamada Sthapylococcus aureus (estafilococos aureus), como a principal vilã dessa história. Esta bactéria está comumente presente no corpo humano. Nas mãos, nos cabelos, na pele, embaixo das unhas, na saliva etc. Os surtos registrados envolvendo esta bactéria, também estão comumente relacionados com alimentos manipulados e expostos por um bom tempo em temperatura ambiente. Na referida cidade, nesta época do ano, a temperatura atinge cerca de 33ºC nas horas mais quentes do dia. Temperatura ótima para o crescimento microbiano. A intoxicação causada por esta bactéria geralmente ocorre da seguinte maneira: alimentos são manipulados por pessoas que não fizeram a higiene correta das mãos, do ambiente e/ou utensílios e, estes mesmos alimentos são deixados por mais que duas horas em temperatura ambiente, propiciando o crescimento dessas bactérias, que posteriormente, produzem uma toxina no alimento. Uma vez que essa toxina produzida, não temos como destruí-la, por mais que se aqueça o alimento. É muito comum ocorrer este tipo de intoxicação quando as pessoas deixam o almoço dentro do fogão, microondas ou mesmo sobre alguma bancada para esquentar e comer mais tarde. O grande problema das contaminações microbiológicas é que, uma vez que o microrganismo consegue chegar até o alimento, ele se reproduz em todo ou quase todo o alimento, contaminando a todos que o comerem. Diferente de uma contaminação física. Crianças, idosos e imunodeprimidos têm mais facilidade de contrair uma intoxicação ou infecção alimentar, por apresentarem sistema imunológico mais fragilizado. Dizer que a contaminação foi proposital ou intencional é brincadeira de mau gosto. Até porque as análises efetuadas confirmaram a presença de Sthapylococcus aureus, além de fungos e coliformes. Portanto, não houve nenhum ato terrorista. O que devemos fazer é levar a manipulação de alimentos muito a sério e evitar que pessoas passem por momentos difíceis que uma intoxicação provoca. Ser displicente com a higiene pode sim, matar uma ou mais pessoas. E daí passar a ser caso de Polícia, como ocorreu em 2006 num hotel em Recife, onde três gerentes, um chef e uma nutricionista foram acusados da morte de uma garotinha de nove anos. O delegado, presidente do inquérito, constatou que houve negligência e imprudência na preparação dos alimentos. A solução está em três pontos: consumidores altamente exigentes, empresários altamente conscientes e vigilância sanitária trabalhando com melhor estrutura e com profissionais do ramo de alimentos, o que vem ocorrendo. Cláudio Lima é engenheiro de alimentos do Instituto Centec, especialista em alimentos e saúde pública, mestre em tecnologia de alimentos e autor de três livros na área de higiene e qualidade de alimentos. claudiolima@opovo.com.br
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