Jornal O Povo - caderno Ciência & Saúde - 12 de julho de 2009 - Coluna Alimento & Saúde
Outro dia recebi um telefonema às cinco horas da tarde.Era meu sobrinho que estava na praça de alimentação de um grande shopping de Fortaleza. Ele me perguntou: - Tio, você já escreveu ou fez alguma matéria na televisão sobre comida servida em fast-food? Ele continuou: - eu fiz um pedido numa lanchonete aqui da praça de alimentação e fiquei esperando por ele numa mesa bem em frente à loja.Quando o pedido saiu, o balconista chamou a garçonete que estava manipulando o lixo.Ela foi até o balcão pegou meu lanche e trouxe até a minha mesa. Ele me contou que se recusou a receber o lanche e disse a ela o motivo, que muito a contra-gosto e resmungando, acabou substituindo o lanche dele. Desliguei e fiquei lembrando das vezes que fui ao shopping e vi situações erradas com relação ao perigo de contaminação dos alimentos.Uma das situações é bem clara mas quase ninguém repara. Você compra, por exemplo, um sanduiche em um fast food e se precisar de canudos e guardanapos vai observar que, muitas vezes, estão dispostos sobre uma lixeira de madeira. Àquela mesma onde as pessoas colocam as bandejas depois que lancham. Também podemos apontar essas mesmas bandejas como objetos que podem transmitir contaminações. Após fazer o lanche as pessoas pegam suas bandejas, se dirigem até às lixeiras citadas, abrem a tampa de madeira, colocam a bandeja dentro da lixeira, descartam o resto de comida, embalagens e colocam a bandeja sobre a própria lixeira. Já vi funcionários de lanchonetes pegarem essas bandejas e, sem lavarem, colocarem novamente à disposição dos clientes. Veja bem! As bandejas, ou parte delas, foram colocadas na parte interna das lixeiras e, sem que fossem higienizadas, foram reutilizadas por outros clientes. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal Rural Fluminense avaliou as condições higiênico-sanitárias dos estabelecimentos self-services dos shoppings centers situados em várias zonas do município do Rio de Janeiro. A pesquisa concluiu o não atendimento à legislação vigente em 100,0% dos estabelecimentos verificados. Os pisos, na grande maioria dos estabelecimentos (88,89%), apresentavam rachaduras e buracos. As portas desprovidas de fechamento automático em 77,78% dos casos. Em 100% dos locais pesquisados não existia qualquer planilha de controle da higienização das instalações físicas. Observou-se que todos os restaurantes tinham equipamentos de refrigeração inadequados quanto à conservação dos alimentos. Cartazes com orientação para os manipuladores sobre a correta higiene das mãos e demais hábitos de higiene foram observados em apenas 22,22% dos restaurantes. Os programas de capacitação adequados e contínuos relacionados à higiene pessoal e à manipulação dos alimentos foram identificados em apenas 22,22% dos locais. Eu creio, baseando-me na pesquisa, que em Fortaleza como no restante das capitais do país, a situação é semelhante à do Rio de janeiro. Certamente existem bons restaurantes em shoppings que procuram cumprir todas as normas e legislação sanitária. Eu mesmo conheço um excelente em Fortaleza. Contudo deve existir um comprometimento real dos donos desses restaurantes e fast-foods visando o bem-estar dos seus clientes. Mas deixemos claro que os restaurantes são exatamente aquilo que, como clientes, exigimos que eles sejam. Se uma praça de alimentação é na verdade uma praça de contaminação, é porque assim permitimos. >>
Cláudio Lima é engenheiro de alimentos do Instituto Centec, especialista em alimentos e saúde pública, mestre em tecnologia de alimentos, autor de três livros na área de higiene e qualidade de alimentos. claudiolima@opovo.com.br
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