Lavar as mãos é uma operação tão simples e tão importante que quase ninguém deixa de fazer, certo? Errado! O brasileiro deixa de lavar as mãos em várias ocasiões.
Pelo menos foi essa a conclusão de uma pesquisa realizada pela consultoria TNS Global Market Research, que ouviu em torno de mil pessoas em quatro capitais brasileiras.
Para citar alguns dados da pesquisa, dentre os entrevistados, 53% afirmam lavar as mãos antes/após se alimentar; 49% lavam as mãos depois de ir ao banheiro; 46% antes/depois de preparar alimentos; 44% quando se sente sujo/suado; 21% depois de ter contato com animais e 16% antes de alimentar crianças.
Levando em consideração que muitos dos entrevistados devem ter vergonha de confessar que não lavam as mãos, essas percentagens citadas devem ser bem maiores.
A notícia não me surpreende e também não deve surpreender o amigo leitor. Reflita um instante e responda: você lava as mãos em todas essas situações citadas pela pesquisa e sempre que necessário?
Podemos adquirir diarreias, gripes, conjuntivites e uma variedade enorme de outras doenças caso não lavemos as mãos.
A mão serve de veículo para os microrganismos serem transportados de lugares contaminados para uma infinidade de outros locais.
Assim, os microrganismos alcançam, por exemplo, os olhos, a boca, as narinas, a genitália e a pele.
Agora imagine uma cozinha de um restaurante funcionando em pleno vapor. Imaginou? Muitos funcionários, ambiente quente, úmido, com comida por todos os lados.
Em quantas situações um funcionário de uma cozinha precisa lavar as mãos? Seguramente, assim que ele chega ao trabalho. Antes de manipular os alimentos, ao utilizar o banheiro e voltar para a cozinha, após se ausentar da cozinha para fumar, ao recolher o lixo, ao coçar partes do corpo, ao mudar de atividade (ex. quando estiver manipulando um alimento cru e for manipular um alimento já pronto para o consumo), ao tocar em alimentos estragados ou em sacarias, caixas, sapatos.
Um manipulador de alimentos deve ter, portanto, o hábito contínuo de lavar as mãos, pois elas são o seu instrumento de trabalho.
Você acredita que os manipuladores de alimentos estão fora da pesquisa cita anteriormente? Você tem a certeza de que eles higienizam as mãos da forma correta?
Quando vou me alimentar fora de casa, observo a estrutura do restaurante, peço para entrar na cozinha e dou uma olhada rápida nos hábitos dos funcionários?
Sempre é interessante conversar com o gerente, com o nutricionista e mostrar que você está atento. Dessa forma, conseguimos ir mudando as coisas aos poucos. O mercado muda conforme nosso grau de exigência.
Muitas vezes, os funcionários não lavam as mãos, porque não recebem treinamento. Não sabem que lavar é diferente de higienizar. Não sabem que apenas água e sabão não matam microrganismos. Não sabem nem o que são microrganismos. São informações que não recebemos na escola nem no dia a dia. Isso quando os manipuladores frequentaram a escola.
O empresário do ramo de alimentos precisa saber, portanto, que muitos casos de doenças transmitidas por alimentos ocorrem porque o seu funcionário não higienizou corretamente as mãos.
O que ocorre, na prática, é que caso a vigilância sanitária não fiscalize, não oriente e caso o consumidor não seja exigente, o empresário simplesmente “lava as mãos”.
Cláudio Lima é engenheiro de alimentos do Instituto Centec, especialista em alimentos e saúde pública, mestre em tecnologia de alimentos e autor de três livros na área de higiene e qualidade de alimentos.
claudiolima@opovo.com.br